Qual a corrente filosófica que mais se aproxima da sua sensibilidade?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Mudo II

     Se o Tempo andasse em círculos, o futuro voltaria a ser passado, e o passado presente, e o presente futuro! A eternidade um só momento que acabaria a pedido de qualquer esquizofrênico que se prezasse. O Mudo devia ter razão, só que as pessoas não compreendiam. Mas o Mudo tinha medo que o tempo não andasse em círculos, mas andasse sempre para a frente, tipo universo em expansão permanente. Mas como poderia algo estar sempre a crescer sem parar? Haveria Espaço suficiente para albergar tanta matéria em permanente expansão? Tanta matéria? Só se o espaço também fosse infinito... Mas o Mudo dizia que não! Por isso, o Tempo teria que acompanhar a Matéria voltando a um ponto de partida original e fechando um ciclo…Em círculo…Era isto que o Mudo teria descoberto e que não poderia dizer a ninguém com medo que lhe chamassem nomes…Por isso contemplava o Espaço e o Tempo. Estático, à saída da cidade, ao pé do centro comercial, olhando de pé e em frente na direcção do infinito… Dando azo a tantos boatos acerca da sua suposta esquizofrenia…
    Uma vez desejaram ao Mudo que se sentisse sempre feliz, ao que este respondeu:
-Não me deseje tanto mal, por favor…Porque se eu estivesse sempre feliz não o saberia! Visto não saber o que era estar triste para poder compará-lo com o estar feliz…Ou seja: Se estivesse sempre feliz não o compreenderia verdeiramente nem lhe daria grande importãncia… Prefiro ser como sou… Eu! O Mudo! O maluco! O louco! O esquizofrénico! E as suas gargalhadas entoavam como palavras ôcas e surdas que o vento levava…Para outros ciclos no tempo….

O Mudo sabia que a genética não era um conceito estático, mas sim um conceito dinâmico…Não como a maioria dos cientistas diziam ou pretendiam que fosse, como pretendem explicar certas doenças, a vontade de fumar ou o vício da heroína…

O Mudo pensava que há coisas que não se vêem e que também são transmitidas genéticamente…Coisas que não são físicas, como por exemplo as emoções ou o medo às cobras…Pensa-se que por uma questão de sobrevivência, o Homem desenvolveu alguns mecanismos a nível cerebral desde a Pré-história, e transportou-os nos genes durante sucessivas gerações até aos nossos dias. Por isso, o Mudo pensava que o homem podia moldar a sua genética através do  comportamento quotidiano. Ou seja, em última análise, se não quissesse transportar nos seus genes a emoção “Medo”, nem numa forma adaptativa, teria que adoptar agora no presente, comportamentos onde o “Medo” não fizesse parte da sua vida. Após repetição sistemática destes comportamentos diáriamente, o aperfeiçoamento desta nova emoção (ou da sua ausência) contra o “Medo”, faria com que se inculcasse no código genético  e o transmitisse, nessa nova forma, às gerações posteriores. "Evoluindo", depois, até aos próximos espécimes não sentirem qualquer emoção de “Medo”. A genética, não de uma forma que a “genética faz a gente”, mas de outra maneira, sendo que a “gente é que faz a genética”. Não um único ser humano, mas sim muitos, que através da sistematização dos seus comportamentos a fariam evoluir até um estado que a controlassem completamente…A instância última do Homem…A direcção suprema da Humanidade: Comandar a genética através do pensamento! Através de uma ordem directa do nosso cérebro para o resto do organismo, seria possível parar, por exemplo, com a reprodução anormal das células que originam o cancro…A suprema ideia de dominar o envelhecimento, a doença e a auto-destruição do organismo, visto de uma perspectiva de se constituir como um erro próprio provocado pelo mesmo. Os erros próprios podem-se corrigir, pensava o Mudo. Mas não o poderia dizer nunca a ninguém, porque nunca ninguém acreditaria nele… (Risos) …

Onde começa a liberdade e acaba o destino? Onde finda a submissão e começa a revolução? Onde morre a morte e vive a vida? Era nisto que o Mudo meditava quando olhava para o vazio, localizado no horizonte do sonho e incompreensão, daquelas pessoas que passavam por ele e o molestavam com observações desprovidas e medíocres de gente com medo de tudo. O Mudo não tinha medo, pois estava a mudar a sua genética minuto a minuto, segundo a segundo, até ao final dos seus dias. Só tinha que encontrar alguém para transmitir os seus genes e dar origem a uma nova maneira de pensar o mundo e o objectivo de… Ser Humano! …A única condição desta teoria era que para se transformarem em verdadeira genética, os comportamentos teriam que ser pela motivação intrínseca e voluntária, sem a necessidade de algum reforço aparente, ou seja, sem interferência de objectivos de cariz material e ou económicos. Em que o verbo Ser tivesse mais importância que o verbo Ter.

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