Qual a corrente filosófica que mais se aproxima da sua sensibilidade?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Psicólogo do Ser humano



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Cabisbaixo, o Ser subiu os degraus lentamente como se estivesse com medo de ser reconhecido por alguém ou com receio da sua própria sombra ou existência. Quando chegou ao cimo da escadaria empurrou a porta de mola fazendo soar o “Ding-Dong”, de seguida entrou na clínica e apresentou-se à recepcionista. Por fim sentou-se e esperou algum tempo, até chegar a sua vez:
 -Sr. Ser Humano? Faça o favor de entrar!
 E o Ser entrou…
     A sala de consulta era acolhedora, com um quadro em tons de azul-marinho pendurado na parede por cima do divã. O quadro representava um tabuleiro de xadrez que parecia flutuar no espaço, era ambíguo e paradoxal, metade céu, metade mar, onde vagueavam figuras humanas cabisbaixas e de braços caídos como que perdidos no Tempo e no Espaço, na leveza do vácuo e do vazio existencial. Figurantes de uma representação do Mundo tão Estética como efémera….Decerto alguma abstracção surrealista do tipo Salvador Dali. Em cima, no tecto, uma antiga ventoinha enorme de madeira com quatro pás, refrescava o ar dessa tarde de Verão, ao mesmo tempo que produzia um som surdo e ritmado, tão monótono e rotativo que também  servia como um indutor de sonolência ou de paz interior. ZZZZZZZZZ…ZZZZZZZZZ…. ZZZZZZZZZZ….Cortando o Espaço do ar, num movimento uniforme, com a mesma direcção dos ponteiros do relógio. TIC…TAC! TIC…TAC! TIC…TAC! Cortando o Tempo…. Dois cadeirões ladeavam o divã, mas o Ser Humano preferiu sentar-se numa cadeira da mesa ao canto da sala, de frente para o Psicólogo. Tirou umas folhas brancas e uma caneta e começou a escrever. As ordens do Terapeuta indicavam que escrevesse qualquer coisa… De preferência sobre a sua vida, ou sobre os supostos problemas que o atormentavam. Ele ouviu-o explicar que as nossas dúvidas e angústias narradas numa folha de papel, poderiam ser exorcizadas das nossas vidas e apartadas do nosso Ser...
     Assim, um dos supostos objectivos desta Terapia Narrativa seria o paradoxo do Ser  sentir uma “desidentificação” em relação aos seus próprios problemas e dificuldades, ao mesmo tempo  que os identificava ou reconhecia como seus.  É a isto que algumas correntes da Psicologia, como por exemplo a Transpessoal, chamam de desidentificação, ou seja:
-“Observo os meus pensamentos e os meus sentimentos, mas não me identifico com eles.”... Fecho-os numa caixinha de fósforos e atiro-os ao rio como tudo fosse assim tão fácil
    O Ser humano ouvia, pensava, e ia escrevendo ao mesmo tempo, tão concentrado e abstraído que parecia possuído por alguma estranha consciência e em estado de transe, tudo tinha deixado de Existir. Não havia conceitos de Tempo, Espaço, Matéria, ou Existência, apenas uma folha de papel de um branco imaculado, manchado de uma forma abusiva e violenta pela tinta de uma caneta. O destino à espera de ser escrito ali, nesse momento, de uma forma activa pelo actor e em tempo real! O livre arbítrio de quem acredita na Liberdade e Auto-determinação, mesmo sem se saber vivo ou morto, consciente ou inconsciente. Que escreveria ele? …As suas vozes diziam-lhe para escrever sobre personagens relevantes da sua vida, conhecidos ou desconhecidos. Diziam-lhe também para não ter receio de fazer juízos de valor e de factos sobre tudo o que pensava valer a pena referir na sua narração. Enfim… Para ser Ele Próprio!
O Ser Humano não estava ali para ser simpático e condescendente com a sua pessoa, mas somente para fazer uso do seu direito de dizer e de narrar. A forma da sua escrita não o preocupava tanto como o seu conteúdo. Tratava-se apenas de um exercício de narrativa e não de escrever um romance. Ele queria ser contido, transferir as suas angústias para o papel. Contudo, o Sr. Ser, sempre tinha tido o sonho de ser escritor, só não sabia que um dia iria começar assim. Só esperava que a sua narração não fosse como “arame farpado” para quem o lesse…E que o seu Psicólogo o entendesse de uma forma razoável. Por isso teria que ser algo mais, onde se pudesse entrar na leitura e compreender simplesmente, sem grande pretensão a erudição. Compreender pelo coração. O homem ali presente era acima de tudo um Ser Humano, cheio de erros e problemas. O objectivo consistia apenas em, deixá-los escritos no papel e exorcizá-los da sua vida real.
     Então a voz do Psicólogo Paulo, soou na sua cabeça como uma alucinação auditiva:
     -Bem…Acho que pode começar a Terapia, se faz favor!
     E o Ser Humano começou contando o que o atormentava, ele era afinal como outra pessoa qualquer, e tinha o direito a expressar as suas dúvidas e inquietudes, mesmo por tão absurdas que o pudessem ser ou parecer. A problemática que iria narrar não obedecia a nenhuma ordem em especial, e situava-se entre o Concreto e o Abstracto, entre o Real e a Utopia. Os seus interesses eram ricos e variados assim como o que o perturbava…Estava entre o querer ser um Belo e Inteligente Filósofo, daqueles com um enorme poder de abstracção e distinguidos pela sua inteligência, mas supostamente incapazes de gerarem felicidade, e a de um Ser simples e humilde que vivendo pela Natureza, planta batatas, tomates e couves, e se sente feliz por ver todos dias o Sol a nascer, sem ter que fazer muitas perguntas ou sentir muitas angustias existenciais…… Por fim, já ninguém o poderia impedir de comunicar as suas ideias, juízos, e opiniões de uma forma divergente e criativa. Aqui, sozinho consigo próprio, nesta interacção com o seu Psicólogo, já não sentia o perigo de o internarem compulsivamente nalgum Hospício, como esquizofrénico descompensado ou em surto…Então o Psicólogo recebe uma chamada de urgência de um paciente que estava com ideação suicida para ir ao seu domicílio, e tem que se ausentar. Antes pergunta ao Ser Humano se não se importa de ficar sozinho durante uma hora ali na sala de consultas, a escrever a sua narrativa. O Ser humano responde afirmativamente acrescentando que compreende o motivo, decerto um caso muito urgente e mais grave que o seu…., A ideação suicida que o próprio Ser Humano já sentira em tempos e que por esse facto tão bem a compreende, será certamente um dos mais graves casos tratados por quem exerce Psicologia, e que requer a maior compreensão e urgência. Então O Ser Humano fica sozinho e começa a meditar….Aproveitando então a ausência do seu Psicólogo, senta-se na cadeira deste e começa a fingir que está a dar uma consulta a outro ser Humano…. A sua curiosidade leva-o a mexer nas gavetas da secretária e nos processos que estão na estante, e num ápice se esquece do objectivo da sua narrativa. Então tem uma ideia, como estava com dificuldades para começar o seu exercício, aproveita os temas e ideias de alguns apontamentos que lê do psicólogo. …
Fica fascinado com a sua personalidade e rapidamente se identifica com o seu terapeuta. A empatia que sente por ele torna-se em simpatia. Só espera que o psicólogo Paulo não fique muito chateado com ele…
Finalmente começa a escrever:










A inquietude existencialista do meu Psicólogo.
     “Como um estado de graça que não dura sempre, a seguir à paz de alma surge por vezes em nós uma estranha agitação, mesmo nas mentes mais resilientes. Paulo, o meu psicólogo, gosta muito do Ócio e tem uma paixão especial pela Filosofia, pela sua luxúria e voluptuosidade como se de uma bela amante se tratasse. Por exemplo quando esta bela Filosofia se veste de Existencialismo, usando  jeans de ganga apertados que realçam a sua bela e linda silhueta,  ele enlouquece de desejo e morre de Loucura, apaixonando-se definitivamente pelas suas ideias e formas físicas ….Apesar das ideias do existencialismo não serem tão úteis e práticas como por exemplo o uso de umas calças de ganga para todas as ocasiões, foi através delas que conheceu Albert Camus, um dos seus principais  interpretes e autores,  um dos seus  preferidos, Filósofo e amante, claro está, da Filosofia Existencial.
Depois de ler um livro deste amante e desesperado filósofo do Existencialismo, chamado “O Mito de Sisifus”, (Livro este emprestado pelo professor Pedro), só teve que confirmar as expectativas que tinha sobre esta bela “Mulher” perigosa e sedutora……Por intuição, insigth, ou estupidez humana, tão característica nele, julgava-se a reencarnação do filósofo que morreu em 1960! Que mais seria preciso para confirmar esta estranha sensação, além da data da morte do filósofo? Ele morreu meses antes do Psicólogo nascer… Teria sido apenas um breve período de não existência para reencarnar novamente, Camus morreu em 4 de Janeiro para tornar a reencarnar em 18 de Novembro na pele do meu psicólogo. Este bizarro input pronto a ser empacotado e armazenado como uma verdade insofismável, nalguma parte do neocortex, seria promovido a memória auto-biográfica vinda directamente de um hipocampo parcial no tratamento das suas memórias. O Absurdo do pensamento humano, quando confrontado com a finitude da sua própria existência, deixa transparecer a nudez frágil da sua condição, tudo se joga num beco sem saída e sem sentido, aliás, o único sentido que existe é um sinal de sentido único e obrigatório, em direcção ao túnel que se estreita cada vez mais. Lá diz o povo: quem de jovem não morre de velho não escapa! Essa confrontação do nosso pensamento abstracto, que existe entre o desejo e a realidade da existência humana, faz com que toda a insanidade da aleatoriedade cósmica e quotidiana, a que se poderá chamar Loucura, ganhe estatuto de verdade e ciência. Para mais, a versatilidade e a prática de vida de Albert Camus conferiram-lhe uma credibilidade genuína, a qual Paulo tanto admirava, estabelecendo consigo próprio uma comparação “analógica”. Além de “Arquitecto do Pensamento”, o homem parecia dotado de um conhecimento pragmático que servia de suporte à sua enorme coerência existencial, tão rara nos nossos dias. Tal como Camus, também Paulo estava longe de ser apenas um académico e um teórico, sendo que também ele suportara as despesas económicas dos seus próprios estudos, formação e investigações, enquanto estudante Universitário, trabalhando e estudando ao mesmo tempo.
    Apesar de ter nascido na Argélia e de possuir na obra que legou à Humanidade, um livro chamado “Estrangeiro”, Albert Camus fez parte da resistência Francesa no tempo da segunda Grande Guerra, lutando contra o Nazismo e a sua ideologia. A sua pátria era a Língua Francesa, costumava dizer, e a Liberdade a sua Causa.
     Mas e o estado de graça designado de “Esperança” por Camus, afinal seria o quê? A Fé!?... Mas a fé em quê? No elixir da eterna juventude? Na vida depois da morte? A fé no Amor? No mundo das Ideias Platónicas? Na justiça, fraternidade e igualdade de direitos e deveres? A fé no sistema económico mundial? Mas afinal, que raio de Esperança ou de Fé seriam essas que Albert referia nesse livro como oposição ao “Absurdo”? E já agora, que raio de Absurdo era esse? Pois parece que para se saber isso, se tem que sentir na pele a corrente filosófica do Existencialismo, e fazer Amor com essa bela “Criatura” que reflecte a nossa efémera paixão pela vida, atraiçoada vilmente pela fragilidade da nossa condição humana, pela injustiça da doença, do sofrimento ou da morte. Este par de “cornos” com que a esperança, em algo que valha a pena ser vivido, ornamenta a existência do nosso Ser, traduz assim de uma forma perfeitamente atroz e Trágico-Cómica a realidade da vida. Pois…E assim para se saber concretamente do que fala Camus, basta-nos levantar um dia virados do avesso e constatarmos a (in) reversibilidade das coisas. Abrir os olhos pela manhã e perceber que a realidade não existe. Acordarmos de um sonho sem saber que o sonho é a realidade e a realidade é o sonho….Sem saber o que é real e o que é fantasia.
- “Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar, enquanto houver estrada para andar….” Jorge Palma-

domingo, 6 de fevereiro de 2011

À espera da Última moda tal como o Bocage!

Lembrando Bocage ...

Roto e com a casaca a pedir restauro, passeava-se Bocage com uma peça de tecido às costas.
Alguém o questionou:
- Porque andas tu assim todo maltrapilho,quando tens aí uma boa peça de tecido, que daria uma boa indumentária?
Responde fulminante Bocage:
- Estou à espera da última MODA
 
À espera que a ciência económica se defina e resolva os seus paradoxos...
 
-Deflação ou inflação? (  decidam-se!)
-Sempre a Crescer! E porque não aceitar  o (de)crescismento ?
-Consumo ou poupança? ( Parecíamos bolas de ping-pong se fossemos atrás desses cientistas...)
-Esperança de vida ou reforma tarde ( Trabalhar até ter "os pés para a cova"? Para quê viver mais se não se têm qualidade de vida'?
-Vender ou comprar? ( Não pode haver um tempinho para o ócio?)
- Moeda forte ou fraca? Se está fraca exporta-se mais, se está cara exporta-se menos! Porra! Decidam-se! Não venham apelar ao consumo , vender e oferecer cartões de crédito, e depois virem dizer que há crédito mal parado! Não se pode ter tudo!... Sabíam? Génios da economia???...
 
 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Outono começou hoje...


“ O Outono começou hoje, a cara do tempo não engana! … Está tão de acordo com o calendário para a época como o está para uma das faces da natureza humana: Cinzentos, nostálgicos, parados, sem nada para fazer, e contudo a passarem e a envelhecerem…. Os dias são desfiados com a velocidade do Tempo…Nem muita nem pouca, a sua própria característica… Aquela que se conta no bater do relógio criado pelo Homem para medir a sua passagem neste mundo. Podem sentir-se os odores das folhas cinzentas e húmidas que se desprendem das árvores como lembranças nostálgicas, e também o cheiro do nosso estado de espírito ressequido por essas reminiscências que se tornam no presente efémero, para recordarmos no futuro próximo, se o houver na nossa história… Quando o dia é claro e luminoso, e cheio de vida e pleno de Sol, torna-se mais difícil guardar qualquer tipo de recordação do presente, para evocar no futuro. Parece que a exuberância da luz faz definhar as recordações e a nostalgia, tornando superficial o seu armazenamento na nossa memória. Os registos mnésicos não chegam tão profundamente ao substrato biológico do cérebro …Não se associam com tanta força e vontade à cara do Tempo, quando o Sol e a felicidade os ofuscam de felicidade dionisíaca, embebedada de inconsciência. Quando está escuro e alguma nuvem temerária se interpõe entre o Sol e a Terra, fazendo um dia cinzento e seco, sem brisa e sem chuva, sinto-me como um privilegiado. Passei alguns dias de Sol, sem possuir a consciência existencial do Tempo que passou, e gozo agora o seu ocaso. O diário que porto desde a minha criação foi escrito de início pela minha mãe, aquela que me deitou no mundo e me deu todos os seus registos hereditários conjuntamente com os do meu pai, todas as minhas coisas boas, erros e imperfeições. Sou um ser humano? Não sei…às vezes sinto-me diferente dos demais… Não me concebo à priori a mim próprio, só posso ser aquilo que quis e que quero ser neste momento. Sei isto porque já tenho registado recordações noutras vezes, também em dias cinzentos, as quais guardo religiosamente dentro de mim, recordando-as depois passados tempos, algures no futuro, com uma certa saudade que me dá um prazer quase masoquista mas que me reconforta. Meu Deus(?) ou deuses, estarei louco? Que gozo me dá esta sensação de poder dominar o Tempo com as minhas recordações… Como se estas o pudessem dominar… Se nunca o vi nem apalpei…Vi apenas o que se passa através dele, as coisas a mudarem… Não são as mesmas! Contudo no nosso íntimo, bem no fundo de nós, a sua percepção continua a mesma, como querendo fazer das coisas uma mesma substância, natureza imutável feita de bocados de nós. Eterna! O meu diário é feito de bocados de mim. Um bocado tinha eu ainda meses, e foi escrito pelo punho da minha mãe. Outro bocado, mais adiante, já apareço eu com mais idade. Com dez anos iniciei eu a escrita pelo meu punho. Contudo não dominei o Tempo, se era isso que queriam saber… Fui escrevendo, sentado nas suas esquinas, olhando de todos os ângulos, para baixo para cima, para trás e para a frente. Cheirando a sua essência e apalpando a sua substância, fazendo esculturas da sua informe génese. Tentando fazer amizade com ele e as vezes chamando-lhe impropérios e até tentando agredi-lo. Nada disto resultou, e o meu bocado de 13 anos assim o confirma, porque escrevi nessa altura no meu diário que com esta idade já me sentia muito crescido em relação a quando tinha meses de idade. Depois o meu bocado de 15 anos que já era mais velho que o de 13 anos, desdenhou desse e escreveu que ainda era maior…. Depois aos 18, e assim sucessivamente, e ainda não parei… A minha relação com Ele mantém-se inalterável desde o primeiro dia, ou seja: Envelheço e o dia está perfeito!
A  esperança de compreender e dominar esta abstracção chamada Tempo, esbarrou com a minha sensação de finitude, da corrida contra ele próprio. Vejo-me e desejo-me uma coisa, um conceito, sem conteúdo, uma matéria, flutuando no vazio da existência, existindo por ela própria…Independente de tudo e todos, da vontade de Deus e dos humanos, criação e criador. Aqui ninguém "toca"! A liberdade de Ser é inviolável! Não pedi isto a ninguém… Tudo antes é escuro e tudo será escuro depois…. Que me interessa a riqueza, o dinheiro e a fama? Nada! Não me interessam nada! Tudo o que me interessa é a forma de compreender a minha finitude e consequentemente a minha possível opção de imortalidade. São camadas de Universos sobrepostos, tudo é relativo…Camadas de sistemas entrelaçados, disso ninguém duvide! Não é preciso nenhum génio para o saber ou explicar. O Macro está intimamente ligado com o Micro num interminável jogo de Criação e Destruição…Numa perpétua ordem ou desordem Cósmica Mico e  Macro, que não pode ser definida por qualquer conceito que (ainda não) existe. Pois bem, é aqui que me situo, sentado neste intervalo do Tempo, a olhar para uma formiga e pensando: Será que ela pensa? Quanto serão 24horas no seu ciclo vital? O mesmo que para mim ou para o planeta que se situa por cima da minha cabeça? O que será que pode influenciar estes sistemas relativamente perpétuos? O meu diário não será de certeza! A estrela que olhei na minha inquieta adolescência continua lá, no mesmo sítio. A mulher que amei está mais madura, mais velha, a formiga que admirei já não existe. E acima do Universo e da Estrela que ainda vejo, neste dia cinzento, estará mais outro Universo, ainda maior que este que vejo…E em cima desse, outro ainda! Como mais uma página de inquietude existencial que experimento como formiga que sou, página a página em direcção aos caminhos do futuro. O espírito envelhece? Eu não vejo o meu espírito a envelhecer embora o tempo tenha passado….Pela simples razão que não consigo ver espíritos…Que mistério indecifrável, que náusea, será aí que se situa o segredo do existir? Não sei… A minha mãe morreu há dez anos…Que descobriu a Espécie Humana, através dos seus mais brilhantes representantes, ao longo do Rio que corre e que constitui a sua existência desde há primórdios? Nada! Esse Rio nasce não se sabe onde e caminha para sitio incerto….Apenas se sabe que de noite se vêm a brilhar alguns pontos luminosos quais pirilampos ao longo do seu percurso.