Qual a corrente filosófica que mais se aproxima da sua sensibilidade?

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

ANTÓNIO LOBO ANTUNES e o seu último Romance "A Última Porta antes da Noite"

Todos nós pensamos, por vezes, que nos podem tratar por "escritores" contudo  ao lermos A. Lobo Antunes, aí constatamos que estamos em presença de algo transcendente.   Pessoalmente nunca conseguia ler mais do que 20 ou 30 páginas do escritor nas primeiras tentativas, achava-o um pouco arrogante e a sua escrita complicada para o público em geral como "arame farpado" mas neste seu último romance compreendi porque é ele um "ESCRITOR" , a par de Saramago talvez o Maior do passado recente! "Os cães de trezentos dentes, e cinco patas, exprimem metáforas geniais neste romance, onde o Homem se dá conta da sua finitude e  impotência , perante a vida que passa num instante, onde começa a conviver com a artificialidade das coisas onde o seu envelhecimento é a única realidade que existe, e onde até porventura se vão perdendo os dentes, e a virilidade, não um desejo de uma pequena. As imagens,  que se conseguem compreender através de uma linguagem por vezes simbólica, onde o Escritor não dá "nada de graça" e onde muitas vezes só ficamos a "pensar naquilo" quando vamos adormecer,
Que quereria ele dizer com aquilo?
que não compreendemos por vezes à primeira passagem como se um puzzle se fosse construindo através do tempo e da acção cronológica. Porque escreve o António uma vez por ano um romance? Salvo erro desde os anos 90 ou nos finais? Há quem diga que persegue um prémio? Pessoalmente não creio, António Lobo Antunes busca o "Santo Graal" e todo o romance escrito passa a ser passado e só no futuro ele encontra a perfeição. Este romance é o seu futuro! Apesar de não ter 300 dentes e 5 patas, vai deixando o seu legado como um predador da genialidade ! O seu estilo é inigualável! Saramago foi Saramago, Camilo foi Camilo, Eça foi Eça mas A. L. Antunes  é no Presente talvez o maior vulto das letras portuguesas! Honra que seja feita e que venha de lá esse NOBEL!

J.P:

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

José Paulino no Volume I da Colectânea de Micro Narrativas Ficcionais, da Chiado Books

Mais uma vez, José Paulino foi seleccionado com um conto (micro-conto) para o Volume I da Colectânea de Micro Narrativas Ficcionais, da Chiado Books.  Também na  colectânea de contos de Natal 2018,  da editora Chiado Books,  tinha já participado com um conto que a seguir publicamos:

"Era Natal e Maria estava num lar, mas nunca se tinha adaptado muito bem aquela nova realidade, longe da sua filha e da sua neta e dos amigos da aldeia onde antes vivia.
-A dona Maria já sabe o que aconteceu aos Silva, que moravam ali abaixo? Perguntou-lhe a assistente social.
-Já sei sim, senhora Doutora! Foram assaltados e os ladrões maltrataram o marido da Ana Silva. Toda a vizinhança já sabe! Isto aqui era tão sossegado antigamente, não sei como podem agora as pessoas andarem a fazer estas maldades.
-Por isso estou aqui a propor-lhe que passe a viver no lar da Aldeia, é muito mais seguro para si Dona Maria, que diz? A Assistente Social estava ali apenas com o propósito de a levar a ir viver para o lar.
-Não sei, mas vou pensar. Foi a resposta da Dona Maria. Uma semana depois estava no lar.
Fazia já pouco mais de um ano que estava ali, e nesta altura do Natal relembrou também os pedidos que fazia ao menino Jesus e ao Pai Natal quando era criança:
Desta vez não queria brinquedos, não queria dinheiro, não queria bolos nem nada de material, apenas queria ver a sua filha e a sua neta, pois só esse sentimento a faria feliz! O tempo de criança já lá ia….
-Não penses que te vêm ver este Natal, o Pai Natal não existe…. Ouviu uma voz dizer-lhe, talvez a voz ou uma das vozes da sua consciência. A voz da desesperança.
-Não sei porque me dizes isso “voz”, eu gostava tanto de voltar para casa, onde era feliz….
O Dia de Natal era dali a dois dias e cada vez mais lhe parecia uma parvoíce desejar que a família a fosse visitar, afinal só por uma vez a foram ver ao lar, e foi dois dias depois de ela lá ter dado entrada. Certo é que no dia de Natal quase todas as suas amigas e amigos foram visitados pela família, era tarde, e já se estava a jantar e a sua família não a tinha vindo ver. Até que, como a esperança é a ultima a morrer, pouco antes da meia noite apareceu a sua filha com a neta, e disseram-lhe assim:
-Olá mãe, venho fazer-lhe uma grande surpresa. Vamos viver todos juntos a partir de hoje. E já vamos passar a meia-noite a casa. Eu vendi a minha casa e tomei a decisão de irmos todos viver para a aldeia para a sua antiga casa, como uma verdadeira família. Vamos restaurar a casa onde vivemos e onde a mãe foi feliz!
Maria chorava de alegria e apenas disse: Não acredito! Afinal sempre existe o Pai Natal! Agarrou a mão da neta Mariana e abraçou-se à filha e as três saíram dali para chegarem a casa a tempo de festejarem esse Natal em que a família se reuniu para não mais se separar, pelo menos até ao fim da velhice da Dona Maria!"