Qual a corrente filosófica que mais se aproxima da sua sensibilidade?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A inquietude existencialista do psicólogo do Ser Humano.


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     “Como um estado de graça que não dura sempre, a seguir à paz de alma surge por vezes em nós uma estranha agitação, até nas mentes mais resilientes. Paulo, o meu psicólogo, gostava muito das ideias da corrente filosófica do Existencialismo, e depois de conhecer Albert Camus através do seu livro “O Mito de Sisifus”, que o professor Pedro lhe emprestara uma vez, só teve que confirmar as expectativas que tinha sobre o assunto…Por intuição julgava-se a reencarnação do filósofo que morreu em 1960! Que mais seria preciso para confirmar esta estranha sensação? O Absurdo do pensamento humano quando confrontado com a finitude da sua existência, faz tudo o resto parecer não ter sentido. Para mais, a versatilidade e a prática de vida de Albert Camus conferiam-lhe uma credibilidade genuína, a qual Paulo tanto admirava, estabelecendo consigo próprio uma comparação analógica. Além de “Arquitecto do Pensamento”, o homem parecia dotado de um conhecimento pragmático que servia de suporte à sua enorme coerência existencial, tão rara nos nossos dias. Tal como Camus, também Paulo estava longe de ser apenas um académico e um teórico, sendo que também ele suportara as despesas económicas dos seus próprios estudos, trabalhando e estudando ao mesmo tempo. Apesar de ter nascido na Argélia e de ter escrito um livro chamado “Estrangeiro”, Albert Camus fez parte da resistência Francesa no tempo da segunda Grande Guerra, lutando contra o nazismo. A sua pátria era a Língua Francesa, costumava dizer, e a Liberdade a sua Causa.
     Mas e o estado de graça chamado de “Esperança”, por Camus, seria o quê? A Fé? Mas a fé em quê? No elixir da eterna juventude? Na vida depois da morte? A fé no Amor? No mundo das Ideias Platónicas? Na justiça? A fé no sistema económico mundial? Mas afinal, que raio de Esperança ou de Fé seriam essas que Albert referia nesse livro como oposição ao “Absurdo”? E já agora, que raio de Absurdo era esse? Pois parece que para se saber isso, tem que se sentir na pele a corrente filosófica do Existencialismo. Uma sensação verdadeira do sentimento de finitude que a nossa consciência percepciona e determina. Pois… Para se saber concretamente do que fala Camus, basta-nos levantar um dia virados do avesso e constatarmos a reversibilidade das coisas. Abrir os olhos e perceber que a realidade não existe. Acordarmos de um sonho sem saber o que é real. O que parece fazer sentido não passa de uma mera ilusão de óptica. Apenas poeira no ar num dia de tempestade, onde o vento sopra por acaso depositando esses grãos microscópicos na aleatoriedade do Cosmos. Esses dias que são noites no outro lado do Mundo, e que a sua interpretação depende do lugar onde se situa o observador! Esse planeta que não passa de um satélite do Sol, precisando de luz e energia para existir e saber distinguir esses dois estados. De Noite e de Dia, de Dia e de Noite. E que até esse Sol na sua grandeza de enorme estrela luminosa, mais milhão, menos milhão de anos, deixará de o ser. Essa condição é, pois, o Absurdo da nossa vaidade e arrogância em contraste com a certeza da nossa efemeridade, da consciência da nossa existência em presença da sua finitude. O Absurdo de toda a Tecnologia, Lógica, Ciência e Filosofia! Da adoração dessa palavra vã e ideológica a que muitos chamam “Evolução”, às performances do nosso cérebro Pré-Frontal. Todos esses sentimentos de segurança e de grandeza tornam-se absurdos em presença da consciência da nossa fraca “casca de noz” navegando no meio de um Oceano de dúvidas. Quando toda essa ego-centrocidade é reduzida e esmagada pela nossa idiossincrasia existencial, acordamos um dia virados do avesso….
E podemos saltar para o vazio do nosso Absurdo!
…”Eu existo! Ou…Eu não existo?”...
      O livro de Albert Camus começa assim:
- “Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: É o suicídio”.
      Pois bem…Parece que o homem, ao fim de 47 anos de uma vida recheada de aventuras, morreu num estúpido acidente de viação. Aliás, como o são todos os acidentes e todas as mortes. Este ser humano que resistiu ao suicídio, à guerra da resistência contra a invasão nazi, aos pensamentos geniais e intrusivos que arquitectava em prol do seu “corpo filosófico”, ao desgaste de uma vida plena de acção e de reflexão, pois bem… Este Homem com letra Grande, não resistiu aquele estúpido acidente! Nem ele resistiu, nem qualquer ser humano que se preze resistiria. O absurdo da questão é a forma como a nossa mortalidade ou finitude é encarada, tendo em linha de conta a nossa precária condição humana e fragilidade existencial.”
Continua


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